Nesta sexta-feira (6), o Centro de Investigação e Prevenção de Aeronáuticos (CENIPA), divulgou o primeiro relatório preliminar do acidente com um ATR 72-500 (PS-VPB) da VOE, que ocorreu no dia 9 de agosto de 2024, na cidade de Vinhedo-SP.
Antes da divulgação, o Tenente-Brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno, ressaltou o compromisso do CENIPA com a transparência e a seriedade na condução das investigações, bem como o respeito à dor dos familiares das vítimas envolvidas no acidente.
Segundo o relatório preliminar, voo que seguia para Guarulhos (GRU) com 58 ageiros e 4 tripulantes a bordo ocorreu dentro da normalidade até as 13h20 (horário de Brasília). No entanto, a partir das 13h21, a aeronave deixou de responder às chamadas do Controle de Aproximação de São Paulo (APP-SP). A perda do contato radar ocorreu às 13h21, e o momento da colisão contra o solo ocorreu às 13h22.
O Cenipa também afirmou que a aeronave estava com os registros técnicos dos dias e meses anteriores de manutenção atualizados. Contudo, a aeronave estava com um Pack inoperante, porém, tal ocorrência não inviabiliza a operação da aeronave, já que o item faz parte do sistema pneumático, sendo responsável por levar o ar pressurizado para a cabine e motores, bem como o avião possui outro sistema semelhante com a mesma função, mas nesta situação, o teto base da operação para o cálculo de combustível é de 10 mil pés (o que ocorreu), sendo que a aeronave deveria voar até 17 mil pés (procedimento também feito).
Vale ressaltar que, o relatório tem como base nas informações coletadas durante a ação inicial, bem como no gravador de dados de voo (Flight Data Recorder – FDR) e no gravador de voz da cabine (Cockpit Voice Recorder – CVR).
“É importante destacar que não existe um fator único para um acidente, mas diversos fatores contribuintes. No caso do PS VPB, a perda de controle da aeronave ocorreu durante o voo sob condições favoráveis à formação de gelo, mas não houve declaração de emergência ou reporte de condições meteorológicas adversas”, explicou o Tenente-Coronel Fróes.
Após as análises das comunicações gravadas pelo CVR, foi constatado que os tripulantes comentaram sobre uma falha no sistema DE-ICING. Esse sistema serve de proteção contra formação e acúmulo de gelo na aeronave. Com as gravações obtidas pelo FDR, foi verificado ainda que o sistema AIRFRAME DE-ICING, responsável por evitar que ocorresse acúmulo de gelo nas asas, foi ligado e desligado por diversas vezes.
“O que temos até o momento é que houve uma fala extraída por meio do cockpit que um dos tripulantes indicava que havia uma falha no sistema de De-Icing (antigelo). Isso, todavia, não foi confirmado do sistema de dados (FDR)”, afirmou o Brigadeiro do Ar Marcelo Moreno, chefe da Seção de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos.
“Existiram duas vezes nos gravadores de voo de voz. Em uma delas, o piloto comenta que houve falha no sistema de airframe (antigelo). Na segunda delas, o copiloto comenta ‘bastante gelo’. Foram duas vezes que foi comentado durante o voo de 1h e 10 minutos sobre o gelo”, explicou Froes.
Baseado nos dados atmosféricos de ar superior, o CENIPA identificou que havia muita umidade combinada com temperatura do ar abaixo de 0°C, o que favoreceu a ocorrência de Formação de Gelo em Aeronave (FGA) severa, desde o centro-norte do Paraná (PR) até São Paulo (SP), atingindo inicialmente a camada compreendida entre os níveis de voo, Flight Level (FL), 120 e (FL) 140, com seu topo chegando ao nível (FL) 230 na borda frontal do sistema em São Paulo (SP).

Diante das junções dos dados, o avião estava voando em condição de gelo, a aeronave perdeu altitude de forma repentina por falta de sustentação (estol) e controle. A tripulação não declarou emergência.
As caixas-pretas revelaram que por volta das às 13h20, o ATR começou uma curva à direita com uma inclinação de 32 graus. Em seguida, ocorreu uma curva à esquerda com uma inclinação de 52 graus, embora não esteja claro se foi uma reação dos pilotos ou da aeronave. Depois, houve outra manobra à direita, desta vez com uma inclinação de 94 graus. Nesse momento, o avião ganhou um pouco de altitude, mas logo perdeu sustentação, ando a girar em parafuso por cinco vezes até atingir o solo.
O fato de o relatório estar na fase preliminar, não aponta qual o motivo da queda do acidente, pois o CENIPA continua analisando mais fatos relevantes e dados do voo, não sendo possível apontar qual a principal falha para a queda.
Além do CENIPA, a Polícia Federal (PF) também está realizando uma investigação sobre o acidente, mas diferente do CENIPA, que busca encontrar as causas do acidente, a PF investiga se há pessoas que devem ser responsabilizadas pelo acidente.
“O nosso objetivo é entregar o Relatório Final no menor prazo possível, dependendo sempre da complexidade da ocorrência e, ainda, da necessidade de descobrir os possíveis fatores contribuintes”, disse o Brigadeiro Moreno.
O relatório preliminar pode ser lido na íntegra clicando aqui.
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Com informações: CENIPA